PONTE METÁLICA FERROVIÁRIA DE IGAPÓ
A ponte de ferro começou a ser construída em 1913, e concluída em 1915 e inaugurada foi no dia 20 de abril de 1916 e era totalmente de ferro e só possuia duas vias em sentidos opostos, mais a linha ferrea.
Sua função era a de permitir a passagem dos trens da Estrada de Ferro Central, facilitando o transporte entre a Capital e o interior do Rio Grande do Norte, que até então só era possível transpondo-se o Rio Potengi por meio de embarcações. Construída durante o governo do Des. Ferreira Chaves, possuía uma extensão que totalizava 550 metros, com nove vãos de 50 metros e um de 70.
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A ponte construída pelos ingleses e que hoje serve apenas como trampolim foi uma das reponsáveis pela chegada do progresso à Natal do início do século XX |
Quem cumpre o ritual diário de atravessar o Potengi, via Igapó, atormentado pelo calor e trânsito lento, talvez não repare no gigante obsoleto e corroído pela ferrugem, que se mantém imperturbável sobre as águas. Muitos sequer sabem da contribuição do monumento para o desenvolvimento da cidade. Fato é que há quase 100 anos a Ponte do Rio Potengi, faz parte do cenário natural e urbano, a “Ponte de Igapó” como é mais conhecida, ainda guarda no leito do estuário segredos sobre a construção.
Para desvendá-los, um grupo de engenheiros civis, coordenado pelo engenheiro e pesquisador Manoel Fernandes de Negreiros Neto, desenvolve estudos para identificar o método capaz de deixar intacta a estrutura de concreto que sustenta os arcos metálicos. O resultado da pesquisa, iniciada em 2006, será publicado no livro “A história da construção da ponte metálica sobre o Rio Potengi”, até o final deste ano. Até lá, muita água há de rolar sob a ponte. Mais que isso. Os especialistas se propõem, além de historiar a obra e a Natal de 1916, a recalcular e reprojetar com os métodos usados no início do século XX, a obra que marcou a era da revolução industrial na construção civil potiguar.
“Em resumo seria uma arqueologia da engenharia. Há 100 anos e ela ainda está aí. Como foi feito? Tentaram demolir e não conseguiram, tiraram só 40%. Esta ponte nos dá uma prova de durabilidade de obras, que é uma coisa que engenheiro sempre procura. As obras de hoje com 30 anos já estão com problemas. Existem hoje prédios novinhos, na beira mar em Natal, que em cinco anos apresentam problemas no concreto”, observa o engenheiro. Enquanto isso, a estrutura cravada a partir de 1914 permanece “sem problemas, niveladas, perfeita”, abaixo da lama negra do fundo do rio.
A antiga técnica foi planejada para suportar os açoites do tempo e, resistiu inclusive ao descaso dos gestores públicos. “A engenharia moderna ainda tem muito a resgatar do conhecimento aplicado na antiga ponte de Igapó, relembrar como fazer coisas que funcionem. Considerando que o hoje é aluno do ontem”, observa Negreiros.
Artista tem sugestão de uso para estrutura
Criar um espaço para receber a comunidade, pesquisadores e estudantes, no trecho já destruído da ponte velha de Igapó. Essa é uma das alternativas levantadas pelo artista João Natal, para a utilização do monumento tombado pelo patrimônio estadual. “Hoje ela não tem uma proteção além do tombamento, o que está se pensando em criar aqui é um grupo de trabalho para avaliar os bens patrimoniais tombados, identificando os proprietários e fazendo uma avaliação mais abrangente das intervenções necessárias”, aponta.
Coordenador do Centro de Documentação Cultura Eloy de Souza (Cedoc), ele reconhece que a Fundação José Augusto não possui, atualmente, condições adequadas para fiscalizar e notificar os proprietários de bens tombados como a ponte de ferro sobre o rio Potengi. “Por estar tombada, a ponte não pode mais ser descaracterizada, mas é preciso uma avaliação sobre as necessidade de intervenção em sua estrutura. Próxima ao mar, a salinidade vai corroendo e será necessário fazer algo para preservá-la”, observa.
Artista visual, João Natal admite que entre as intervenções a serem analisadas tanto pode estar a reconstrução da parte da ponte que foi desmontada, com materiais mais modernos e seguindo a arquitetura original, ou mesmo a adoção da ideia de criar um espaço de visitação, em estilo mais contemporâneo. “Essa intervenção poderia gerar uma discussão permanente sobre a questão de patrimônio”, entende.
A opinião do artista é que “recompletar” a ponte com espécies de contêineres, fechados, mas no mesmo desenho da ponte, com capacidade para receber visitantes, estimularia uma discussão permanente se a ponte estaria sendo destruída, para dar lugar à estrutura fechada, ou reconstruída, voltando ao seu projeto original. “Claro que essa é uma ideia no campo da arte visual, mas seria interessante, inclusive para usos educacionais, para visitação técnica de alunos, ensaios fotográficos”, exemplifica.
Os investimentos, cogita, poderiam vir junto com os da Copa do Mundo de 2014. “Já que se fala muito em construir e reconstruir, a gente poderia pensar também na preservação da paisagem”. João Natal se mostrou feliz em saber do interesse dos engenheiros em escrever o livro e acredita que iniciativas do tipo podem reanimar o debate a respeito desse patrimônio da cidade.
DO BLOG: Após 54 anos de uso se tornou “sem serventia”. Desativada em 1970, após o fim do contrato de exploração pela companhia inglesa, e com a inauguração da ponte de concreto, ela foi relegada ao esquecimento não só de quem passa e não a vê, mas do poder público. Tombada pelo patrimônio histórico estadual – Fundação José Augusto – em 1992, a única providência foi evitar a retirada do que restou de uma das três primeiras pontes brasileiras.